segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sua vida e seu verbete


Dançar com o sono
Não sabias eu mais com quem dançar
Dançar com sorrisos
Por seu nome em todos os dicionários
Encaixar rosas em caixões
Colocarei verbetes em seu túmulo gélido
Dar um toque apimentado de terror
Caçar moscas em meio a um lixão
Usar os ponteiros do relógio de tudo
Todo objeto dançante
Andar me espreguiçar
Até sua meu amor acabar
Me diga qual é a cor do seu céu
Lhe respondo com a cor dos meus beijos
Escolha o tema e escreverei o que quiseres
Me mande pro inferno
Lá ficarei longe de ti
Me ensine alemão
E mudarei toda a poesia
Coma meus sapatos
Corra como um coiote dançante
Não
Morra de inveja dos meus escritos
Porque tu és mortal
Ainda amo-te
Xinga nos meus ouvidos uma palavra torpe
De baixo calão
Diga algo erótico e mudarei de assunto
Sua rejeição me ensinou a escrever
Seu dever me ensinou a ler
Não faço poesia pra bicho
Mas pra pedaços de corações desalentados
Não dou pão aos pombos
Mesmo assim mastigo-os junto a tudo
Luto com meu sono
Mas pareço imortal
Meus dedos teimam comigo
Agarrados a caneta
Eles escrevem
As mágoas
E colocam no papelão
Retalhos de pensamentos
Passos de danças
E vou escrevendo
Até que um dia você leia
Dance comigo
Beije meus lábios
Contemple minha poesia
Saia da frente com seus paradigmas
Saia da frente com suas opiniões
Passei com meus lampiões
Queimarei seu rosto
Comerei os pedaços
Serei zumbi
Morrerei da sede do seu sangue
E isso terá cara
De poesia
Poema mal acabado.

A dança dos relógios



Os dias passam devagar
As horas incontáveis
Os muros de silêncio
O sabor do silêncio
A conversa com o silêncio
O preconceito do silêncio
Nada seria como um beijo
Os sacrifícios tornam corações apaixonados
Em mudos
Meu coração é mudo é surdo é cego
Ele parece não se importar
E só quero escrever
Os sussurros do silêncio
Nada mais abre a boca
As lágrimas se silenciaram
O único som vem do contato da caneta no papel
Escute a canção que viria do meu coração
Colo jornais velhos no meu sofá da sorte
Monto um cenário todo meticuloso
E só se esvaem poesias e sonhos
Os resquícios de tudo
E as falas de amor
Conte os dias comigo
Faça amor comigo
E escreverei algum conto
Algum erotismo
Algo que não seja poético
Algo que abranja meu corpo
E não coração poético
Apenas gritos surdos
Pálidos saem de mim
Misto de sensações absurdas
E jamais combinadas
Algo que seria erotismo
E não passa de poético
Me leve pra Argentina
Me leve ao Japão
Não.
Apenas me ame
Mãos que nunca me tocaram
Lábios em meu pescoço
Nunca se encontram
Esquinas mal pavimentadas
Que não possuem ruas em comum
Minha rua é sem saída
Choro por ter que desfazer do meu violão
Sofro pela falta de sedução de minha parte
Sonho com palavras suas jamais ditas
Por versos taciturnos jamais escritos
Por lenços que tu não me ofereceste
Vou corroer meus sorrisos com lágrimas
Deito na cama com o final frívolo
Do livro que eu escreveria e meu amante
Deu um final que eu jamais cogitara
Não dei a permissão pra você escrever o fim do meu livro
Não
Apenas mudarei o curso da história
Você pode morrer
Pode tudo
Menos não me amar
Lábios carnudos, queixo firme
Olhos escuros, brilho de mulher
Andar sedutor
Por que não me quer?
Não. Eu te amo
E nunca bastou
Não bastou o toque
O olhar
Nada.
Sou apenas mais uma personagem apagada
Da minha própria história
Me conformo em ser narradora observadora
Nada e nunca terá erotismo
Nada que idealizei
Chorei e agora tem um gato em cima do meu teclado
Piso nas teclas agora
Em busca da sinfonia perfeita
Vejo os livros que leria
Contigo ao meu lado
Mas tive de queimar
Pra não lembrar
Do seu reflexo que poderia ser a capa
Você colocou um ponto final na minha vida
E reticências na minha dor
Amor
Mude-se de cidade
Por favor.
No silêncio da estrada
Não gostaria de vê-lo andando de bicicleta
Também não pediria que tu fosses
A luz do meu túnel
Jamais, gostaria de ganhar prêmio piegas
Quero sentir seu cheiro
Em meio ao meu caixão
Em meio aos meus sonhos
E repito que te amo
Nunca adianta
O que são dez anos de diferença?
O que falta?
Em meio a tantas lágrimas
Banho os pés e relaxo
Ou vou tentando
As cachoeiras tem olhas
A televisão tem atores
Só vejo você em cada homem
Em cada esquina
Isso me alucina
Não quero esquecer do seu cheiro
Da sua maneira de agarrar-se a uma bateria
Mudo os temas dos meus escritos
Mas algo tem sempre uma mensagem subliminar
De você
Queria mandar-te pro inferno
Mandar-te pro céu
Não faria apenas nada
Só faria amor contigo
Atração física?
Não. Isso é um desabafo mudo
Jamais esquecerei
Do guarda chuva azul
Vou despir-me
E dançar com ele
Não tenho mais aliterações
Só vou andando nua na grama
Ouvindo as danças dos relógios