quinta-feira, 1 de maio de 2014

Nove nuvens

Acima de nossas cabeças existem nove nuvens multicoloridas
Abaixo dos nossos pés existe uma canção torta
Dentro de nossos lábios quem sabe nove minutos de silêncio
O homem das lágrimas afugentou-se de nossas vidas
Dentro da boca, palavras de consolo ou de morte
Esse amor tão turvo e tão claro
Vivemos numa redoma com nove nuvens acima dos nossos corações

Dentro da nossa pele há um caminho que parece que separa e une
Nas estradas seguintes vejo um sorriso que mente
Um sorriso com ares pífios
Em nossos corações existem nove nuvens que nos atormentam

No meio no caminho há nove curvas cheias de tormentas
No meio da estrada, são apenas nove nuvens acima
A meio caminho , há meio sorriso
No caminho inteiro, há uma meia canção
No meio da lágrima, há algo turvo

No meio da mulher, uma criança gritando
Seriam apenas nove nuvens se não fossem por nossas roupas berrantes
São notas semitonadas que tornam o carinho mais são
São nossas roupas berrantes
São nove nuvens acima de nossos sorrisos
A vida tem sido apenas.
Nove nuvens

terça-feira, 4 de março de 2014

As inversões sintáticas que as palavras de amor supostamente duradouros fazem deveriam me deixar melhor.Porém, insistem em me pregar peças e matar o meu sentimento com o decorrer dos dias. Papéis deveriam servir de consolo ou então serem utilizados para secar minhas lágrimas.A música foi feita para dar felicidade.No entanto, fomenta minhas lágrimas e me faz infeliz a cada dia. Cada segundo, surge dentro de mim um caos, um insulto à vida humana: a vontade do suicídio.Talvez os suicidas apenas queiram matar a dor, para tal seria necessário levar o corpo inerte dentro de um caixão. Dentro do meu peito há uma massa disforme que bate de tempos e tempos.De tanto pisada, essa massa se molda de acordo com a ocasião.O amor maltratou tanto a minha alma que o reflexo disso foi direto na minha face encovada. Adquiri feições cadavéricas que nem ao menos esboçaram sorrisos por estarem mortas. Tem pássaros mortos nos meus sonhos, corvos que gritam aos meus sentimentos.Eu tenho um caos intenso nos meus ouvidos e costumo proferir monólogos aturdidos.Queria estar no topo do mundo, no topo das montanhas.Ser o centro.Talvez, eu quisesse tomar o lugar de Deus.No começo, nos primórdios do mundo não deu muito certo.Sendo assim,prometo nos meus monólogos que não ousarei fazer isso.Construir uma bolha de sabão,preparar o terreno da minha massa disforme para sofrer mais um dia.Dar infinitivos ao passado.Tentar o expresso presente futuro.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Cinco horas da manhã e eu me levantei da cama. Ouvi um estrondo, pareciam tiros. Recebi um beijo ainda deitada e lépida na cama. Não sei se foi verdade ou se foi um sonho bom ou ruim. Estava na hora de levantar,porém meu corpo estava tão pesado e inerte. Ouvi o estrondo outra vez. Meu cachorro latia tanto,mesmo assim eu continuei na cama. Precisaria começar minha maldita rotina, sair , estudar e trabalhar. Observei os meros mortais passando pela rua e pensei que não queria ser exatamente como eles.Talvez eu tivesse sido beijada pela morte, pela dor ou até mesmo por uma simples preguiça momentânea.Em certos devaneios, sentia um instinto animal tão forte dentro de mim como se a mulher não existisse.Resolvi levantar, passei as mãos entre meus cabelos que raramente são soltos.Pensei que se eu saísse de peruca na rua, os transeuntes olhariam pra mim de modo diferenciado.Pensei que se eu mudasse minha escrita ou usasse roupas decotadas , seria mais mulher. Mas eu sou mortal,levantei escovei os dentes e bebi uma caneca de café morna.Senti meu corpo tão cansado como se tivesse nadado numa piscina repleta de ratos. Talvez fosse isso que acontecesse diariamente.Lembrei-me dele. Do homem que eu amo, e lembrei a noite que passei acordada chorando e me sentindo pesadamente beijada pela morte.Pensando no dia que a minha carne foi abatida,foi pisada e feita de trapos humanos.É incrível como não dividir uma narrativa em parágrafos possa fazer alguma diferença. É incrível pensar na humanidade. Sempre existirão mortes,assassinatos,mesmo com tantos recursos para felicidade.Tão curioso que até mesmo o dinheiro me separou do meu grande amor. Meu rosto estava como uma fruta madura,pesado, com olheiras que pareciam cadavéricas.Sim, por um momento me dei contei que eu poderia estar morta e em outra dimensão.Minhas lágrimas estavam sem coesão. Lágrimas, que eu gostaria de ter costurado no peito pra que jamais ousassem a brincar comigo.Meu amor não sabia que eu existia. E tudo começou no dia que eu conheci a irmã dele.Era ano de pré vestibular e me sentia animada para ingressar numa universidade.Malditos aqueles dias intermináveis em que vivi como uma pessoa mortal,por isso hoje sou um cadáver trapo que restou de tudo. Não consigo esboçar sorrisos. Grazieli me apresentou seu estúpido irmão matemático. Eu era imortal até conhecê-lo. Tenho dúvidas até hoje se ele existiu ou não. Faz tanto tempo, já choveu tanto depois que ele se foi.Decidi me converter em busca de um amor cristão. Não sei onde a minha cabeça andava naquele dia. Tomei uma decisão: precisa ser mortal, precisava me converter para a religião.Queria aquela magia dos casais que vão ao cinema e andam de mãos dadas, custou no que custou.Certo dia, minha amiga me convidou até sua casa. Sua mãe era uma tremenda beata, com cabelos tão lisos que fazia questão de demonstrar que iam até a cintura. Seu pai um caipirão medíocre que andava de bicicleta por terras saquaremenses. E lá estava ele: um Fábio, que costumo hoje denominar de fábula.Fui à igreja, fui à casa da Grazy. Sim, eu menti minhas crenças religiosas para viver um grande amor.Vivi dentro de um bolha que parecia um grande clichê. Comecei a frequentar uma igrejinha de meros mortais com crenças após a morte. Vi tantos pastores beatos e sem saber utilizar nossa língua que pensei: são esses os mensageiros da vida eterna?Mudei meu jeito, cortei meus cabelo na altura dos ombros e resolvi não pintá-los mais. Aposentei minhas calças jeans, meu estilo quase roqueira de ser para me tornar uma mera e beata mortal. Comecei a frequentar aquele lugar de tanta gente ignorante e sem nexo.Sim, pensei que o amor deveria ter sacrifícios.Fiquei morta dentro de mim , por um ano. Minha fábula, meu Fábio tão presente, tão meu e tão distante. Frequentava a casa da Grazieli, fiz um pacto de amizade com a família dela e um pacto de amor secreto com seu irmão. Eu o amava sozinha, morria de dor sozinha, me tornava uma mortal sem escrúpulos a cada segundo.Resolvi abandonar as letras que tanto me consolavam e enveredei por um caminho sombrio que me tomaria mais ano de vida para voltar a imortalidade.Virei beata, perdi meus amigos, usava saias de gente mortal. Chorava como mortal e sofria como religiosa. Será que Deus realmente estava me vendo? Disso eu não sei. Só sei que Deus tem senso de humor. E eu o admiro muito por isso. De fazer as coisas do jeito que ele quer e dar leves pisadelas em nosso coração.Como se dissesse: torne-se mortal por alguns segundos e seja um pouco infeliz para saber que eu existo. Foi isso que ele fez.Todas as reuniões religiosas eu comparecia.E quando a minha fábula, como assim recordo dele, não sorria pra mim eu chorava e era beijada todos os dias pela morte.Durante um ano, estudei e queria ter começado um curso de letras logo de cara.Me tornei mortal mais uma vez, imitei a minha fábula. Tentei a matemática. Passei de primeira no vestibular. Por que? Porque pensei que se escolhesse a mesma profissão dele, seria mortal, porém seria amada. Aos poucos de Fábio, ele se tornou fábula. E, quando eu estava me tornando imortal, contei a ele a minha conquista. Esperei um abraço, um beijo, um eu te amo. Mas ele só bateu no meu ombro.Mandei um email, uma declaração de amor fria. Ele nunca me amou, me respondeu de modo ríspido, meu mundo desabou no dia do meu aniversário de dezoito anos.Morri por alguns dias,fiquei sem comer, magra abatida.Até que a minha mãe descobriu que estava com um câncer de mama. Morri mais uma vez, fiquei em pedaços tão pequenos que até uma formiga poderia carregar.Aquilo me tornou mortal mais uma vez.Morri mais vez em meu leque tão imenso de vidas.Quimioterapia, retirada de um seio. Minha mãe também virou uma mortal, foi beijada pela vida e perdeu os cabelos. Eu estava morta em todos os sentidos da vida. O que eu faria com a matemática? O que eu faria sem a minha fábula? E pior: o que eu faria sem a minha mãe que ameaçava em me deixar? Não sei se foi uma prova de amor, ou se foi pra que os homens não me olhassem por pelo menos um ano.Queria ser imortal mais uma vez. Arranquei minha moldura. Tirei fio a fio. Rapei minhas madeixas lisas e brilhosas. Em parte por solidariedade a minha mãe. Em outra por estar de luto e achar que um grande amor se conquista sendo mortal. Sem cabelos, eu me confinei dentro do meu castelo interior. Morri por um ano sem sair de casa, morria ali todos os dias ao lado da minha mãe. Ela sobreviveu,meu cabelos cresceram, estou na universidade. A fábula desapareceu,meu doce amor não era amor. Era a minha imortalidade saindo . Tudo acabou, mas continuo confinada no meu castelo.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Parece que sou nascida do caos, do infinito e de um mundo alheio.Tudo se inicia quando tentei definir meus rumos, mudar de cidade e então perder todos os meus amigos. Perder que amigos, eu realmente não sabia.Meu vocabulário empobreceu, minhas lágrimas pareciam mais escassas. Enfim, tentei. Cheguei numa cidade distante e interiorana. Não sabia narrar o caos e as vozes que tanto me atormentavam. Até que um dia descobri o papel e que as letras poderiam ser a mais sublime companhia.
Naquele tórrido dia, a vida de uma criança de nove anos não poderia ter sido pior. Costumava dividir o quarto com a minha vô Araci. No meu ponto de vista, uma criatura igual, jamais existirá. Naquele quarto tão infantil e ao mesmo tempo tão adulto. Ela me ensinou a nunca chorar e não tentar não ser criança. Naquele tempo, eu sequer saberia escrever alguma coisa.Sempre fui adulta, a criança dentro de mim parece insistir na coexistência. Até que a minha vô se foi, quinze dias de tortura numa cama de hospital.E o pior de tudo que eu a vi morrer.Morreu na minha cama,sim, vovó ali já estava morta. Seus fluidos corporais se esvaíam como água. Senti que seu corpo não era o mesmo. Nada, nenhuma divisão de parágrafos poderia descrever aquele momento. Perdi meu mundo, ela levou consigo um pedaço de mim e um pedaço dos meus dias.Foi a primeira vez numa vida tão curta que a minha carne foi abatida.A morte não deveria existir, pelo menos não na vida de uma criança.É como se eu fosse um animal levado ao abatedouro.A minha carne se encontrava moída. Eu queria ter tido os mais belos clichês infantis.A vida,porém, não reservou sua face mais bela para mim. Essa foi a primeira vez que tive minha carne pisada, rasgada e o coração rasgado em pedaços tão pequenos que jamais voltariam ao mesmo lugar.Mudar de cidade não adiantou, levei a dor, meus pais e alguns cachorros.Um lugar tão hostil,não seria de valia para mim. Seria o palco das mais tristes decepções amorosas.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Eu nunca escrevi nada às lágrimas
Nunca fitei sorrisos escancarados
Vejo um vale
Um vale tão obscuro que meus passos não ousam cruzar
O que a vida levou
Foram meus amigos,meus afetos
E mais lágrimas do mesmo tipo
O que carrego são flores no peito
Ousadas que vivem num constante bradar das chamas
São diários de episódios jamais ocorridos
Mágoas que nada ousa explicar
Tudo parece se esvair como fumaça negra
Os meninos correm à vontade pela rua como se não percebem minhas lágrimas
Tem um sol diferente lá fora.
Tem personagens que existem mais que a mim
Sim. Receio que exista vida além de mim.
Existe vento que toca mais corações que um só amargurado
Tem ventos que permeiam mais clichês que eu possa imaginar.
Tem mais poesia
Tem olhos por aí
Sim. Existe um mundo.
Sem perfeições.
Mesmo assim, eu vou por ai.
Solto sorrisos.Discuto amores.
A vida é feita de dissabores
Mas.
Termina de forma grotesca
Como um poema sem fim.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

...

Lágrimas amargas
Quantas delas são necessárias?
O que era tempo virou saudade
O que era ferida não pode ser cicatriz
A história que não começou
Não pode terminar sem deixar rastros

Quantas mais lágrimas e léguas?
Quantos mais motivos?
Eis que a montanha parece ser maior que a vida
Maior que o tempo e maior que o amor
De cicatrizes não saem lágrimas
De cicatrizes saem humanos conformados

De cicatrizes não saem tristeza
Não saem lembranças
Nem refúgio
A ferida foi aberta
Dela saem lágrimas amargas com sabor de ingratidão

Lágrimas que não são feitas de amor
Lágrimas feitas de solidão
Lágrimas pintadas
Molham a face, molham a ferida
Lágrimas que não decalcam palavras
Amortecem o chão
Cala a poesia e mescla amargura
Sentimentos tão primitivos quanto o ódio

Tira a coerência de momentos que pareciam ser felizes
Tirou o brilho de sorrisos vis
Dos lábios brotou a dor
Brotou a amargura
Dos lábios pareciam espargir palavras como o fel

A felicidade ficou tão longínqua
Pulou de um abismo como se não gostasse de existir
Os corvos aparecem da janela
Pareciam chamar Poe
Pareciam gritar nunca mais

Meus caminhos pediam uma dose de sossego
Meu peito arfava em demasia
Gotas de lágrimas jamais foram tão densas
Pareciam inundar uma vida inteira

O amor pareceu não existir
O peso do mundo
O peso das lágrimas
O peso da ausência
Expulsei razões
Correndo do amor
Não chegar em lugar nenhum
Não sei de mais nada que me leve ao senso comum

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Quaisquer pisadas.

Os sonetos morreram assim que ele se foi
A lua pareceu perder o brilho
Os passarinhos ao redor cantavam
Expressavam seu sorriso sarcástico
As rosas murcharam imediatamente

Lágrimas fizeram questão de nascer
O canto dos pássaros ia morrendo
A minha carne estava pronta para ser abatida
Foram alguns passos
Passadas leves.

Passadas tal qual a sinfonia derradeira
Como um último suspiro
O vento sorria com mais força
A minha carne começou a gelar
As lágrimas não ousaram sair da minha face

Mais uma vez a carne foi pisada, triturada
Torturada em quaisquer sinônimos existentes
O beijo derradeiro
Ele levou dos meus lábios

A carne marchava em tom fúnebre
Pronta para ser abatida
Cortada, rasgada em pedaços tão pequenos
Jamais voltaria ao lugar

Por segundos as lágrimas cessaram
A carne estava sendo massacrada
O coração batia tão vagarosamente
Parecia parar
A narrativa não poderia continuar

Minha alma ficou vazia, limpa, cálida
As lágrimas regavam o terreno árido onde passavam os transeuntes
A carne seria mais pisada e regada de passos ao longo do tempo
Até que hoje
Ela permanece na inércia
Ao som de um coração inerte
Pintada de uma tinta translúcida

As lágrimas cessaram
O vento as secou
Os pronomes não encontram o lugar certo
A carne está tão desgastada
Que não sente mais quaisquer pisadas.