quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Parece que sou nascida do caos, do infinito e de um mundo alheio.Tudo se inicia quando tentei definir meus rumos, mudar de cidade e então perder todos os meus amigos. Perder que amigos, eu realmente não sabia.Meu vocabulário empobreceu, minhas lágrimas pareciam mais escassas. Enfim, tentei. Cheguei numa cidade distante e interiorana. Não sabia narrar o caos e as vozes que tanto me atormentavam. Até que um dia descobri o papel e que as letras poderiam ser a mais sublime companhia.
Naquele tórrido dia, a vida de uma criança de nove anos não poderia ter sido pior. Costumava dividir o quarto com a minha vô Araci. No meu ponto de vista, uma criatura igual, jamais existirá. Naquele quarto tão infantil e ao mesmo tempo tão adulto. Ela me ensinou a nunca chorar e não tentar não ser criança. Naquele tempo, eu sequer saberia escrever alguma coisa.Sempre fui adulta, a criança dentro de mim parece insistir na coexistência. Até que a minha vô se foi, quinze dias de tortura numa cama de hospital.E o pior de tudo que eu a vi morrer.Morreu na minha cama,sim, vovó ali já estava morta. Seus fluidos corporais se esvaíam como água. Senti que seu corpo não era o mesmo. Nada, nenhuma divisão de parágrafos poderia descrever aquele momento. Perdi meu mundo, ela levou consigo um pedaço de mim e um pedaço dos meus dias.Foi a primeira vez numa vida tão curta que a minha carne foi abatida.A morte não deveria existir, pelo menos não na vida de uma criança.É como se eu fosse um animal levado ao abatedouro.A minha carne se encontrava moída. Eu queria ter tido os mais belos clichês infantis.A vida,porém, não reservou sua face mais bela para mim. Essa foi a primeira vez que tive minha carne pisada, rasgada e o coração rasgado em pedaços tão pequenos que jamais voltariam ao mesmo lugar.Mudar de cidade não adiantou, levei a dor, meus pais e alguns cachorros.Um lugar tão hostil,não seria de valia para mim. Seria o palco das mais tristes decepções amorosas.

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