quinta-feira, 24 de outubro de 2013

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Lágrimas amargas
Quantas delas são necessárias?
O que era tempo virou saudade
O que era ferida não pode ser cicatriz
A história que não começou
Não pode terminar sem deixar rastros

Quantas mais lágrimas e léguas?
Quantos mais motivos?
Eis que a montanha parece ser maior que a vida
Maior que o tempo e maior que o amor
De cicatrizes não saem lágrimas
De cicatrizes saem humanos conformados

De cicatrizes não saem tristeza
Não saem lembranças
Nem refúgio
A ferida foi aberta
Dela saem lágrimas amargas com sabor de ingratidão

Lágrimas que não são feitas de amor
Lágrimas feitas de solidão
Lágrimas pintadas
Molham a face, molham a ferida
Lágrimas que não decalcam palavras
Amortecem o chão
Cala a poesia e mescla amargura
Sentimentos tão primitivos quanto o ódio

Tira a coerência de momentos que pareciam ser felizes
Tirou o brilho de sorrisos vis
Dos lábios brotou a dor
Brotou a amargura
Dos lábios pareciam espargir palavras como o fel

A felicidade ficou tão longínqua
Pulou de um abismo como se não gostasse de existir
Os corvos aparecem da janela
Pareciam chamar Poe
Pareciam gritar nunca mais

Meus caminhos pediam uma dose de sossego
Meu peito arfava em demasia
Gotas de lágrimas jamais foram tão densas
Pareciam inundar uma vida inteira

O amor pareceu não existir
O peso do mundo
O peso das lágrimas
O peso da ausência
Expulsei razões
Correndo do amor
Não chegar em lugar nenhum
Não sei de mais nada que me leve ao senso comum