terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

[Desabafo de terça]

Quero agradecer a você
Por me ensinar a escrever
Tudo mesmo.
Me ajudou a segurar o peso dos meus livros
O mais evidente : eu sou mulher
Obrigada por indiretamente contribuir pra eu arrancar
Sua cara do meu espelho
Me emprestou armar
para matar a menina inocente
A usar saias...
Ah ... você criou o monstro que eu sou hoje
Trocou meu colírio por ácido
Me ensinou a ser mais inteligente
A amar mais ainda minha futura profissão
que por sinal a sua é a mesma
Aprendi contigo o que é exatamente ódio
Perdi toda a minha ternura e doçura
Não sou tão sorridente quanto eu era
Roer as unhas até jorrar sangue
Prender a respiração pra ouvir como
Meu coração batia forte ao te ver
Chorar litros e litros
Quando você não me olhava
Ou simplesmente não ria das minhas piadas
Me beijou quando era tarde demais
Será que começou a me amar?
Brotou dentro de você?
Brotou ? só isso?
De mim foram árvores de amor
Sementes que eu te dei
Mas jogou fora
Aposto com o mundo que agora
Tu olhando até pro prato da bateria
vê o meu sorriso estampado
Está com remorso
De não amar como eu amo
Ou melhor: o não saber amar
Pupilo, por que você é literalmente exato?
Racional... Parece de pedra
Nosso amor...
Buraco negro será que define?
Suas equações me atordoaram no começo
Não desisti de um dos meus sonhos
Apenas estou conquistando tudo que a sua família queria de você
Gostaria de estar dentro do seu coração
Pra saber como uma pedra se sente
Estar dentro da sua cabeça pra entender
como funciona uma rede de esgoto...
Conjecturei um ano
Como seria meu vestido de noiva
Como seria o rosto do nosso primeiro filho
Eu sofri um aborto antes de ser concebido
Nunca tivemos nada
Nada, nada...
Quando a gente trocava palavras eu passava a noite sem dormir
Hoje passo porque me imagino
O presente, o passado e o futuro sem a tua fétida presença

Sem rótulo.

Queria aliviar minha dor
mas você não deixa
Queria ser a menina mais feliz do mundo
Mas tenho que ouvir sua voz
Eu mudaria a trilha sonora da minha vida
Esse garoto toca a nossa música todos os dias
Viveria satisfeita,se o cara não fosse meu vizinho
Poderia estar feliz por qualquer coisa
Infelizmente vivo no fim do mundo
Jogaria as minhas tranças pra ele subir na vida comigo
Seria a vocalista da banda dele
Se não fosse o orgulho tão inútil
Estaríamos abraçados
Não deveria ter ido a shows de rock com o meu "amor"
Tenho lembranças nítidas
Dos momentos que me pareciam mágicos
Ao som da guitarra dele
Não vivo, apenas supero os dias que passam
Queria trocar um copo de leite por um pouco de veneno
Um gole d'agua por um pouco de vinagre
Eu amei, tento esquecer
Sem rótulos vou a cada dia apenas superando.
Quando superar vou cuspir e pisar em cima
Verdade mesmo...
Nem sei exatamente o que sinto.
Exatamente tento me torturar todos os dias
Em busca de uma canção perfeita
Ou algo que me descreva.
Até sentar na frente de um computador
Com mil lágrimas jorrando
No ápice de ser forte
Apenas expressando o que poderia ser eterno.
Sair da maquete
O que um dia foi apenas um projeto de amor...

Felicidade falsa.

Enquanto ele está no castelo
Eu estou na sala de manicômio
Ele comendo o banquete real
Eu mastigo insetos e comprimidos
Enquanto meu amor se cicatriza
Sua família arranca as cascas do meu machucado
A validade do meu amor ainda não venceu
Enquanto o pupilo toca bateria
Dou cabeçadas na janela
Ele sorri, eu choro 
Poderia ser diferente
As paredes tão brancas e estofadas
Parecem se alargar
Ele tão saudável
Estou tendo overdose de calmantes
As paredes gritam e me criticam
Que dia eu e minha amiga
Vamos gritar : basta
Que dia perfeito dos pupilos inúteis
Enquanto um adolescente toca guitarra
Ela se tortura dando facadas no coração
A música de amor soa
E as lágrimas parecem ser o consolo
Vamos recompor nossa maquiagem mesmo que seja de lama
Trocar camisas de força por vestidos de gala
Vamos fingir que somos felizes
Ser rainhas  no mundo de vampiros sugadores de amor
Dar as mãos e fugir no meio da névoa
Matá-los dentro do coração
Perdoar, mas antes cuspir
Esse pode ser o som da minha bateria
Ou quem sabe o da guitarra...

Falando sozinha.

Basta uma ligação da família dele
Os zumbis dançam no meu sono
Os vampiros ameaçam sugar minha amarga vida
Tento me esconder dos problemas
O maldito fantasma do amor volta sempre a tona
Mergulhar no arco íris não me faz uma pessoa melhor
Nem muito menos algo ligado a religião
Sou um poço de tristeza sem fundo
Queria que o último grito da vida
Soasse no meu sono
Quero morrer, morrer ou então morrer e
voltar quando tudo estiver bem
Me enterrar na lama
Morar num cemitério pra me acostumar
Minha vida está regada de músicas fúnebres
Bater os bumbos e anunciar a depressão profunda
Não tenho mais lágrimas
Sou uma planta
Ou então um cacto
No momento a família me parece como fator inútil e perturbador
Quero não respirar
Quero não ter sangue
Queria ter veneno correndo as veias
Vou me entulhar em livros tristes
Romances maus
E tudo que me remeta a morte da alma
Por que perdi meu tempo amando ?
Por que mudei meus costumes?
No meu rosto não tem mais sorrisos
Até minhas lágrimas me abandonaram
Eram minha fonte de consolo
Vou passar o resto da vida me protegendo
Na minha redoma de vidro
Esperar que a tripulação de fantasmas que me cercam
Pelo menos me consolem
Ajudem pelo menos a algumas toneladas
Esmagarem a minha cabeça
É inútil tentar se afogar
Meu maldito corpo vai lutar sempre pra que a vida pulse
Rolar montanhas
Ser amarrada com aramas farpados
Quero engolir minhas promessas
Digerir
Realizar.
Cuspir na cara das meretrizes que duvidaram de mim
Queimar o caráter de muitos inúteis
Vou seguindo meu rumo
mesmo que me arrastando
Comer a carne estragada e amassada de vermes
Comer o doce prato da vingança
Mastigar a paciência de quem zombou
Morar num quarto de manicômio
Quebrar a beatice
Chutar a religião e abraçar a Deus
Jogar o fanatismo no ralo
Fazer por onde.
Quebrar meus espelho
Cuspir no meu próprio reflexo de imbecil
Viver como formigas
Sentar no meio das pessoas como uma estátua
Conviver com a gangorra de sentimentos
Conviver com o verme, abutre e seja lá o que for : SER HUMANO
Vou ser imperceptível como a torneira de um casa
Tão comum
Vou ser a pior das rachaduras
Querer dormir com defuntos
Um quarto negro com a dança de esqueletos