domingo, 10 de junho de 2012

Fetiche e beatice


Vestida de noiva eu tratei de preparar um buquê
Ele possuía dentes de vampiro
O noivo por sinal não era o meu amor
Era um zumbi
E não o meu beato
Tratei de fingir simpatia
Tentei não arrancar as unhas postiças
Porém não deu
Aquelas pessoas tão inóspitas
Queria eu voltar ao lugar de onde vim
Fui ao inferno e ao céu amo mesmo tempo
O meu beato havia terminantemente sumido
Ou melhor, nunca tinha aparecido
Fugi em meio a todos os convidados do meu casamento
Morri de vergonha
Tentei esconder as cicatrizes das lágrimas
Sorver a cachaça da minha cômoda
Distante deveras
Os meus olhos estavam injetados de sangue
E fui mesmo embora corri
Vi um velho barbudo e pensei até que fosse a figura cadavérica do meu avô
Arranquei a peruca de cabelos ruivos
Dei vazão aos meus cabelos escuros e curtos
Como a noite talvez.
Corri e avistei um bando de poetas que amavam minhas prosas
Minhas tentativas frustradas de fazer poesia
Narrar poesia melhor dizendo
Poéticas com mistura de crônicas e relatos mal feitos
Me arrumei.
Cheguei até a pensar que me enamoraria com uma mulher
A sensação me provocou nojo
Até que eu cai em mim
E vi que eu estava em outro mundo
As tendencias de oralidade no meu peito
No meu sentimento vazio
O dos mortais.
O palhaço queria me vender algodão doce
Os meus olhos não abririam as cortinas para cá
Fui e trombei com o mar
Preferia ter visto dona Sinead como minha mãe
Peguei um carro
Fui embora.
E até agora me pergunto pela minha aspiração
De querer ser pobre e poeta.
Pobre sim
Sentimentos sou rica
O engolindo aqui o meu clichê
Uma dose de senso comum por favor
Só que não queria
Era o meu beato longe de mim
Nem ao menos gostaria que ele fosse vigário
Mordi os lábios
Era só um sonho.
Mesmo assim
Real
Até que chutei meu abajur de caveira
Mordi os lábios
Terminei com o beato.
Talvez fosse fetiche
Pelo beato nato
Que eu queria que estivesse morto no asfalto

Os algos e alguéns. Neologismo sem dor.


Tenho recebido respostas cálidas
Que mais se comparam a jardins fúnebres
Mesmo que sejam fruto de imaginações férteis
E de insônias desmedidas
Da criatividade "crônica-poética"
Que eu vou perdendo ao longo do tempo
De respostas que crio para não entristecer meu coração singular
São coisas subjetivas que eu gostaria de escrever com gírias
Algo erudito
Algo que minha formação acadêmica não permitiria
Algo que pudesse conjugar verbos em pretérito futuro
E um passado de sentimentos que enterrei
A minha alienação me delata
De carícias que rompem e rasgam as cortinas dos meus olhos
De beijos tão mirabolantes e indescritíveis do meu beato
Dos momentos nada eróticos
Que julguei no meu âmago que se rasgariam
De beato a moço nato
Não o quero mais
Jamais o quis
E venho hoje sentir o que chamam de nojo
Bem imundo mesmo
Repetições que me fazem cair ligeiramente no anonimato
Dos "eu te amo" que agora soam como música pobre em meu coração
De música que foge ao clássico que nada no sacro
Nos olhos religiosos de quem amei deveras
A poeta vai morrendo
Isso mesmo. Poeta.
Sem ser poetisa
E pode estar prestes a narrar o próprio velório
Gostava eu de ser maltratada talvez
Isso me inunda de insensatez
Algo que eu crio e nem sei explicar
A repulsa e o amor não poderiam entrar em perfeito equilíbrio
Sou extravagante
Mordo meus dedos em busca de sensualidade
Tinjo a boca de vermelho
Lamento não escrever mais como antes
Lamento não ter na ponta dos dedos algo que impressione
Que rasgue sua boca ao ler isso
Lamento utilizar singularidades e não escrever como mandaria o figurino
Os olhos de um negro profundo que seduzo a mim mesma
Em busca de palavras que possam traduzir sentimentos tão inóspitos
Que porventura julguei amor
De algo que me julgue a melhor dentre as mortais
Eu vou sobrevivendo
E agora vago sozinha no oceano do solidão que eu amo tanto
Me escondo no manto
E me ponho a dormir
Desta vez sem pupilos
Sem fábulas
Apenas com o eu dos meus recônditos
Os algos e alguéns. Neologismo sem dor.
Eu apenas fazendo nada.
Sem rimar amor com dor
Rima minha
Dos poetas que desabafam e que não escrevem
Afinal atire suas pedras nas minhas olheiras azuis
Que dou-lhe um tiro na cabeça.
Só queria não beijar em cima do muro.