domingo, 5 de agosto de 2012

Distâncias de vidro

As lágrimas naquele dia
Se misturavam à chuva
E à areia da praia
O som do mar ficou em equilíbrio
Com as batidas tristes de um coração
Pássaros dançavam em meio aos cães
Comiam e surtiam o senso de humor
Que esvaía das minhas lágrimas
As lágrimas fugiam das faces
Um lá no nordeste
Outra no Rio de Janeiro
As batidas do corpo
Os olhares meticulosos
Que ficam à beira do caminho
Tenho lágrimas com cores dispersas
Lábios que antes era bonitos
Formam apenas uma linha tênue em meu rosto
As pétalas das rosas caem juntas e de mãos dadas
Com lágrimas, com dissabores
O ângulo da vida
Os tempos que cerceiam o meu rosto
Tudo poderia morrer
Exceto um coração
Exceto o local na beira da praia que escolho
Para andar descalça
Esperando por tudo que nunca chegou ao seu devido tempo
Esqueci do tom da voz dele
Da cor dos olhos
Talvez.
Não queria que morresse dentro de mim
Apenas quero meu grande amor
O tempo deixa rastros indescritíveis
Esqueço que tenho eu mesma de presente pra mim
Esqueço que o tempo deveria passar mais depressa
Aquele perfume guardado
Famílias que rasgaram cartas
Famílias que quase arrancaram meu coração
Locais que escolho aqui
Jaz um coração
Num jardim seco
Nos áridos terrenos que a vida esconde
Os espaços se resumem a apenas metros
Corações batem na mesma velocidade que a saudade.
Queria sapatos de bailarina
Porém tenho apenas um par de tênis
Um par de música
Meia dúzia de estantes
Plagiar as músicas
Ser presa por plágio
Nunca cometi
Cometo apenas plágios de romances comuns
De vidas comuns
De tempos comuns
Da contemporaneidade comum
E sentimentos inerentes aos homens
Palavras são apenas comuns
As palavras desconexas
Os poemas redundantes
Poderia ser um diário
Distância, cor, raça, tempo
Herança social
Guitarras gritam comigo
As paisagens me viram às costas
Os livros mentem
Os dias mentem
O planeta não é meu
O tempo mandou-me calar
Os dias nunca vão cessar
Nada.
Só queria meu grande amor.
A distância de vidro
Poderia se quebrar
Ao som de um beijo apenas.

Cidade das cicatrizes

Acordei em meio ao turbilhão
A chuva de palhetas calou o meu sono
O dia era apenas mais uma maneira de refúgio
As casas vitorianas me viravam o rumo
Tinha certeza que o ônibus da minha banda favorita
Passaria e me levaria rumo ao mundo do sucesso
A pele deveras alva parecia de confundir ao brilho da lua
O brilho do sol parecia ofuscar-me os olhos
O dia virava às costas de qualquer modo
Os transeuntes ignoravam-me
Aliás.
Todos.
Os ciganos nas carroças escondiam as guitarras nos riachos
As árvores escondiam os nomes de amores comuns não talhadas
O copo de café
Deu lugar ao mofo
A vida que tanto tinha senso de adivinhação
Pareceu se render aos corações e ao destino
As pinturas sorriam
As esculturas traziam reminiscentes do horizonte
Tudo tão vago
Tudo aturdido
Tudo tão camponês
Esqueço que passo os dias enclausurada na minha prisão
Esqueço que passo horas sorridentes
À espera do meu grande amor
Nas fogueiras
Só a lua e as estrelas assistiam o momento fúnebre
Da queima de todas as minhas poesias
As rainhas não tem mais castelos
São as madames de subúrbio
Gostaria mesmo era de um churrasco de vampiros.
Meus discos de vinil
Comprei uma vitrola no brechó da cidade
O crime?
Ah.
É aquele de deixar seu grande amor te esperar
Aquele que funda a todo instante a cidade das cicatrizes