terça-feira, 19 de junho de 2012

A sombra e seu cotidiano

A sombra foi andando
A sombra foi até a cidade
A sombra foi de mãos dadas com o fantasma
A sombra desenhou uma flor com giz

Ela respeitava as leis de trânsito
Ela bebia e fumava e não morria
Gostava de nadar com as crianças no clube
Tinha até um namorado sombra

O vulgo metáfora ambulante
Tinha uma casa de sombra
Um mundo de sombras azuis
Um mundo que tinha uma piscina de sombras

Tinha um amigo espantalho que fugiu do milharal
Vivia num balão todo adornado de plumas
A bela sombra tinha tatuagens nas costas
Tinha um cachorro sombra
O famoso Horácio

A sombra compunha músicas para seu namorado
A sombra alimentava os pombos
E até escovava os dentes
Só que um dia acenderam a luz
E ela fugiu

Foi para um cérebro que tinha sombras
Tinha teias de aranha
Se apaixonou por uma sinapse nervosa
Deixou de ser sombra
Tornou-se infeliz
Até que um dia a pessoa morreu
Sombra renasceu às margens no cemitério
Daí jamais deixou sua vida sombra.

Arrumou um amigo bolha.
Um pássaro sombra
Morreu feliz.
Quem dera se eu fosse sombra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário